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SOBRE

No campo da filosofia, especialmente nas últimas décadas, se tem discutido cada vez mais uma situação que, em princípio, parece ter um caráter mundial: a baixa presença e a pouca representatividade das mulheres na filosofia, seja em termos institucionais, seja em termos históricos. Ainda é incomum encontrarmos obras, livros, artigos de filosofia de mulheres filósofas sendo, por exemplo, tema de disciplinas nos cursos de graduação em filosofia, ou de eventos científicos, de livros monográficos ou mesmo coletâneas, ou de dossiês em revistas de prestígio especificamente da área de filosofia. Quase todo o tempo a filosofia tem sido entendida e considerada sinônimo de trabalho de filósofos. Justifica-se comumente (e apressadamente, no mais das vezes) essa situação com a alegação de que entrada das mulheres na filosofia se fez de modo mais expressivo muito recentemente, há pouco menos de um século, e que, em termos históricos, elas, as mulheres, sempre estiveram fora da filosofia, nunca tiveram chance de produzir alguma coisa, ou então alguma coisa de mais relevante. 

Há um bom tempo, contudo, filósofas e historiadoras da filosofia - feministas, principalmente - vêm se dedicando a derrubar esse mito e a mostrar que esse entendimento, do ponto de vista histórico, não se sustenta inteiramente. Hoje e cada vez mais se sabe que, desde a antiguidade clássica pelo menos, sempre houve mulheres filósofas que escreveram obras importantes e significativas em relação à produção de conhecimento de seu próprio tempo e que, se não figuram no céu da filosofia mais tradicional e mesmo canônica, isso se deve principalmente ao fato delas terem sido invisibilizadas ao longo da construção dessa história. De fato, como se sabe, há mulheres fazendo filosofia: hoje, aqui no Brasil, assim como ao longo de toda a história em diversas partes do mundo, desde a antiguidade clássica pelo menos. Em menor número em relação aos homens? Talvez sim. Em todo caso, essa história não pode deixar de ser contada.

Em primeiro lugar, porque a filosofia dessas mulheres filósofas interessa, é rica e não menos significativa do que aquela eternizada na tradição; em segundo lugar, porque num mundo mais igualitário e justo as mulheres que exercem um trabalho, todos e qualquer um, incluindo o filosófico, precisam, enfim, ter lugar, existir efetivamente e legitimamente como tal. Os Encontros Perspectivas Feministas em História da Filosofia foram idealizados para serem, aqui no Brasil, eventos de uma série especialmente dedicada à mulher filósofa (latino-americanas, descendentes dos povos originários das Américas e da diáspora africana, todos e todas habitantes do Sul Global de modo geral), à questão do seu lugar e de suas contribuições em termos de história da filosofia. Esses eventos vêm se alinhar, dando um caráter local ao tema, a iniciativas importantes de promoção e de discussão da questão específica da mulher na filosofia. 

O primeiro Encontro Perspectivas Feministas em História da Filosofia teve sua primeira edição  em 2019 e foi dedicado ao impacto e ao balanço, no campo da filosofia, dos setenta anos de publicação de O segundo sexo, de Simone de Beauvoir. Nesse segundo encontro, que será realizado nos dias 11 e 12 de setembro no Campus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo, teremos a promoção de uma série de trabalhos relacionados a estudos e pesquisas - comunicações, mesa de debates e rodas de conversa - voltados ao tema central desta sua segunda edição, a saber, "descolonizar o pensamento". 

O II Encontro Perspectivas Feministas em História da Filosofia: Descolonizar o Pensamento se insere nesse grande campo do que hoje chamamos de estudos de feministas interseccionais decoloniais, enfatizando as questões que se ligam à filosofia e aos problemas filosóficos pelo lado de dentro, tanto em termos conceituais como históricos: seja trazendo à luz da história saberes, pensamentos e obras bastante significativas do ponto de vista filosófico mas invisibilizadas (no curso da história mais consagrada e hegemônica, praticada nas instituições de ensino e pesquisa no Brasil e mundo a fora); seja ainda empreendendo uma leitura e uma interpretação dessa filosofia mais tradicional e canônica, contudo, de uma perspectiva inteiramente outra, isto é, crítica de um ponto de vista feminista decolonial. 

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